Dúvidas que me atacam!

Num país onde se discute a legalização da eutanásia (sobre a qual já tive opinião formada, mas relativamente à qual cada vez  estou menos convicta), e onde o Estado se compromete a cumprir o direito constitucionalmente consagrado à saúde, tenho-me deparado com algumas situações que me levam a pôr em causa algumas coisas que tinha como mais ou menos adquiridas.

Tem sido feita pelos órgãos institucionais uma campanha de sensibilização para a necessidade de prevenir e/ou acompanhar os problemas de saúde mental da população. Concordo plenamente com tal sensibilização. Não posso é deixar de me sentir desiludida ao perceber que se içam bandeiras e não mais que isso. 

No que à saúde mental infantil concerne, que é aquela com que trabalho mais directamente, e um pilar essencial de uma população mentalmente sã no futuro, num país que se diz muito desenvolvido em termos de defesa dos menores, parece-me gritantemente escandaloso, que, se os pais ou quem tem a guarda da criança não tiver possibilidades económicas para um acompanhamento psicológico necessário, a criança fique à espera cerca de um ano para que o SNS responda. Sim, o tempo de espera de primeira consulta de psicologia de crianças e jovens na zona onde trabalho é de cerca de um ano. Os estabelecimentos de ensino apenas têm capacidade de resposta nos casos mais urgentes.

Se a isto acrescentarmos que o Estado gasta balúrdios em comparticipação medicamentos, necessários quando estes meninos e meninas passam, no desespero, a ser casos de pedopsiquiatria, parece-me que andamos a ver o mundo ao contrário.

Há tanta ida ao psiquiatra que poderia ser evitada se, antecipadamente, estas crianças fossem acompanhadas...