A morte do Noori (ou Carolina Torres) era uma tragédia anunciada.
Como mãe de duas jovens adultas com resquícios de adolescência não posso de deixar de empatizar com os pais e com a dor que sentem. Perder um filho é uma tragédia desumana. Ser pai e mãe nos dias que correm é mesmo muito difícil.
Como profissional que, há dez anos, lida com a problemática das crianças e jovens em perigo, sinto o amargo da falência do sistema, a inoperância de tudo o que a lei consagra para remover os perigos e evitar que o desfecho seja como o de Noori.
Noori tinha conhecidos problemas de saúde mental associados ou não (não sou profissional da saúde) à questão da sua alegada disforia de género. Mas tinha mais do que isso. Tinha pais separados que não estavam preparados para lidar com a sua dor, que não conseguiram entender o que se passava, seja porque estava muito para além da sua capacidade de entendimento, seja por causa da sua incapacidade de pedir ajuda especializada para si mesmos.
Não é fácil para os pais da minha geração lidar com todo este mundo novo de coisas que no nosso tempo eram tabu e vistas como algo estranho e fora do comum. Mas são muitos os jovens adolescentes que actualmente passam por dramas semelhantes.
O mais importante, o que todo o sistema de protecção devia garantir, era uma visão sistémica e integrada de toda a família e garantir os apoios especializados não só aos jovens mas também aos pais ou cuidadores.
E não garante. Não há médicos de pedopsiquiatria suficientes, não há psicólogos nos locais essenciais. E, ou se tem dinheiro para recorrer à saúde privada ou só por muita sorte os fins não são terríveis.
Há muita conversa sobre a importância da saúde mental. Mas não passa disso. De conversa!
A maior parte das famílias não tem dinheiro para garantir o apoio de quem pode efectivamente ajudar, sob pena de ter de deixar de comer.
E assim se acaba no presente com o futuro.
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