Doí muito...

 Doí muito. Mas, talvez, escrevê-lo aqui me amenize a dor.

A nossa gatinha Mimi morreu. Tinha um tumor. Fez cirurgia e correu bem. No pós operatório entrou em síndorme inflamatório sistémico, os rins falharam e depois o resto dos órgãos...em 4 dias.

Não me consola a ideia de ser uma estrelinha no céu como tantas vezes se diz. O que eu sei é que tenho um buraco no peito e a alma gelada.

Terei de fazer o luto. Aliás, teremos, porque estamos todos magoados, doridos, esfarrapados. Até a cadela está macambúzia.

Seja como for, deixo aqui um poema que me enviaram e que é dolorosamente belo e verdadeiro.

Gatos não morrem jamais!

Gatos não morrem de verdade:

eles apenas se reintegram

no ronronar da eternidade!

Gatos não morrem de fato:

suas almas saem de fininho

atrás de alguma alma de rato!

Gatos não morrem:

sua fictícia morte não passa de...

uma forma mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem:

rumam a um nível mais alto que eles,

de galho a galho, sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem:

mais preciso, se somem, é dizer que foram rasgar sofás no paraíso.

E dormirão lá,

depois do ônus de sete bem vividas vidas,

seus sete merecidos sonos...

(Nelson Ascher, in 'Parte Alguma')