Das polémicas...

28 de agosto de 2018

Quando ouvi as declarações do Papa Francisco, na sua viagem de regresso, em que aborda do tema da homossexualidade, vi logo que o jornalismo de meia tigela e as redes sociais iam ter oportunidade de ouro de destilar o seu ódio.
 Vi logo que pegariam no que lhes interessava: o uso da palavra psiquiatria, num contexto de homossexualidade.
Confesso que já estou enojada desta época de extremismos, de indignação pessoal desenfreada. 
Ele é a loucura com a igualdade de géneros (vista cegamente, sem olhar às patentes diferenças, quando as diferenças devem ser ponderadas para que haja igualdade de oportunidades), à mania da parentalidade positiva (em que parece que são os filhos que se impõem aos pais, devendo estes acatar os seus humores), ao ridículo de se valorizarem mais os animais não racionais que os seres humanos. Defende-se a liberdade, mas somos impedidos de dizer algo que não vá na onda, sob pena de sermos linchados na praça pública, independentemente daquilo que verdadeiramente queiramos dizer e do que verdadeiramente façamos. 
Não me choca o uso da palavra psiquiatria, pois continua a não ser uma descoberta fácil, descobrir-se que se pertence a uma minoria que até há pouco tempo era vistas como "doente". O recurso à psiquiatria como forma de ajudar numa descoberta e numa aceitação do que se é, e não numa perspectiva de tentar mudar seja o que for.
Mas não, ficaram presos a uma palavra, olvidando que Francisco pediu para não se condenar, e defendeu que a parentalidade impõe que se aceite e se acompanhe.

16 comentários

  1. Este texto faz sentido... se for aplicado a uma época que já não é a nossa. Primeiro erro: a homossexualidade deixou de ser considerada doença há 30 anos. Acho que é tempo suficiente para as pessoas tratarem o assunto sem achar quem é algo que tem de ser resolvido com recurso a tratamentos psiquiátricos. Segundo erro: a desculpabilização do autor e até a deturpação das suas declarações. Para além de fazer referência à psiquiatria, sugeriu aos pais que rezassem, como que a indicar que o recurso à oração também pode inverter o caminho da homossexualidade que as crianças possam estar a trilhar. Terceiro erro: se o que ele quisesse indicar fosse o apoio profissional, ter-se-ia referido à psicologia (para que a criança, sim, se aceitasse melhor a si mesma) em vez da psiquiatria, que trata DOENÇAS do foro mental.
    Considero-te suficientemente inteligente para perceberes que a interpretação feita pela comunicação social é a única possível. Se assim não fosse, o Vaticano não se tinha dado o trabalho de corrigir as afirmações. Tanto eu como tu sabemos que a Igreja sempre considerou a homossexualidade como um comportamento desviante às normas morais tidas como adequadas pela instituição. Portanto, aquilo que aqui fizeste foi uma de duas coisas: ou é um exercício de desonestidade intelectual ou é a exibição de uma fanática católica que não é capaz de assumir que o seu líder errou à grande. Com qual das duas queres ficar?

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    1. São perspectivas de ver as coisas. Confesso que, por experiência própria, tenho para mim que a psicologia não resolve todos os problemas. E sim, orar, não no sentido de mudar o que quer que seja, ou de inverter, como dizes, orar para que sofram o menos possível. Nos dias de hoje ainda faz sentido. Para a geração das minhas filhas é já uma coisa absolutamente natural. Para a minha (tenho 45 anos) não o é. E digo não o é, falando na sua maioria. E digo-o porque vejo ainda muitos dos meus amigos fazerem piadas sobre o assunto. Há mais de 20 anos que estudo o tema e noto que ainda há muitas mentalidades a mudar. Mas, Lápis Roído, aceito que vivamos realidades diferentes. Gostava muito de viver numa realidade onde ser homossexual fosse uma coisa que não gerasse comentários, nem fosse notícia, quando alguma figura pública assume que o é.

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    2. A psicologia não dá resposta a todos os problemas e também não dá resposta a problemas que nem sequer o são. Por maioria de razão, a psiquiatria também não pode tratar uma doença que não o é. O Papa foi taxativo e não deixou margem para dúvidas: quando em criança, a psiquiatria podia solucionar o dito "problema", o que já não seria possível com pessoas de 90 anos. Ou seja, é inequívoco que ele acha que a homossexualidade, quando constatada em tenra idade, deve ter acompanhamento psiquiátrico com o objectivo final de resgatar as crianças do "mal" e coloca-las no caminho que ele considera ser o normal, o da heterossexualidade. A comunicação social não subverteu rigorosamente nada do que ele disse. Limitou-se, isso sim, a difundir uma mensagem do líder da Igreja Católica que é, por muito que te custe, homofóbica.
      Eu também conheço essa realidade de que falas. Tenho menos quinze anos que tu e as piadas sobre homossexuais são recorrentes entre as pessoas da minha idade também. E sabes o que é que me parece que é bem capaz de resolver o problema (esse sim, um verdadeiro problema) da homofobia? Não desculpabilizar declarações como as que o Papa proferiu e não nos atirarmos à comunicação social por esta fazer o seu trabalho enquanto veículo privilegiado de informação. Enquanto nos colocarmos do lado de quem prevarica em vez de nos colocarmos do lado de quem denuncia condutas impróprias, podes ter a certeza que os homofóbicos vão continuar a ter terreno fértil para cuspir ódio contra a comunidade LGBTIQ. O Papa, uma das pessoas mais influentes do mundo, deve ter consciência da sua responsabilidade e quem o admira não deve hesitar em criticá-lo se isso se justificar. E sim, por tudo o que acima escrevi, a crítica parece-me plenamente justificada nesta ocasião. Tentar defender o que é indefensável, ao invés, nunca me parece boa opção.
      Convém fazer uma declaração de interesses para que o que digo seja interpretado com igual distanciamento ao que tive na análise do caso: sou tão heterossexual como tu.

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    3. Continuamos na mesma. Tenho uma opinião absolutamente diferente acerca dos meios de comunicação social e das redes sociais. Quando o Papa proferiu esta expressão "“Juan Carlos, que você é gay não importa. Deus te fez assim e te ama assim, e eu não me importo. O Papa te ama assim. Você precisa estar feliz com quem você é”, disse Francisco para um fiel chileno." não houve tanto alarido. E é tudo, quanto a este assunto.

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  2. Li num blog um post sobre isso e pensei exactamente o mesmo que tu dizes aqui. Que não acho mal o acompanhamento, porque não é uma descoberta fácil. E que se esqueceram, sim, da parte em que ele pede para não condenar e incentiva os pais a não renegarem os filhos por isso... pior que o "jornalismo" que faz este belo trabalho, ainda são as pessoas que vão nessa conversa, distorcendo a coisa...

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  3. Tudo o que saia da norma é logo criticado. E não poderia estar mais de acordo com esta afirmação: «Defende-se a liberdade, mas somos impedidos de dizer algo que não vá na onda».
    Não ouvi as afirmações, mas distorcer a mensagem é, infelizmente, o que vende

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  4. Totalmente de acordo com o que escreveste!

    Beijos. Boa noite!

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  5. Uma boa reflexão sobre o tema e sobre as declarações.
    Abraço

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  6. Sim, as pessoas ouvem o que querem para distorcer tudo à sua maneira! Mas mesmo eu, que não sou religiosa nem crente, acho que o Papa Francisco tem uma excelente mentalidade e que apoia qualquer injustiça, seja ele homofobia ou o divórcio porque alguém bate no outro etc...
    Parece-me um excelente Papa e já faltava algo assim numa religião tão antiquada! Há piores sim mas acho que a Igreja já precisava desta lufada de ar fresco...

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  7. Exactamente. O que eu ouvi foi recorrer a um psiquiatra/psicólogo para saber lidar com o que estão a sentir no momento, para entenderem e SE entenderem. Para prevenir suicídios, depressões, vidas infelizes a esconder uma realidade. O que eu ouvi foi para os pais não terem vergonha e pensarem é o meu filho, é a minha filha, e não os abandonar ou castigar pela sexualidade de cada um.
    Mas este jornalismo torto e podre que temos (e que não é exclusivo do nosso país) esta falta de profissionalismo, de verdade, distorceu toda a mensagem para que o ataque ao Papa fosse implacável.
    Quanto vale um clique...

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  8. Só em Portugal é existe ele alarido todo. A comunicação social vende muito à custa de retorquirem noticias, como as criticarem. Adorei a sua publicação :))

    Hoje; Melancolia anunciada.

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta-Feira

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  9. Também me enervam estes extremismos. Na sociedade atual, temos três tipos de pessoas: as muito conservadoras, as tolerantes, e as que se dizem tolerantes mas que não o são, são extremistas apesar de dizerem que defendem a igualdade.
    Estive a ler o debate que tiveste com o Lapis Roido e, tal como tu, não concordo com o que ele disse. A comunicação social pegou no que ele disse e quis vender a ideia errada. Mas, por outro lado, sou sincera, a forma como ele disse não foi muito claro e já se estava a ver que iria gerar más interpretações. Numa era digital em que tudo é analisado ao mais ínfimo pormenor, o Papa devia ter tido o cuidado de ser mais claro ao passar a sua mensagem. Eu percebi a sua intenção, mas nem toda a gente percebe, e outros tantos gostam de se aproveitar disso para espalhar o ódio.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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  10. Dizem que somos livres e que temos liberdade mas se fores bem haver as coisas essa liberdade fica muito aquém por vezes parece que temos de dizer aquilo que querem ouvir para ficarem bem
    http://retromaggie.blogspot.com/

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  11. Os ataques dos conservadores serão cada vez maiores.
    Francisco é muito incómodo.

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  12. Desconfio sempre das pessoas que falam em "parentalidade positiva"...

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