Andamos distraídos?

9 de julho de 2020

Hoje alguém que me é próximo comentava, com grande espanto, que a filha adolescente de uma amiga tinha dito que a quarentena e o sistema de aulas on line tinha sido das coisas melhores que podia ter acontecido.
Tal afirmação não me espantou em nada.
Como profissional da área da família e crianças pude contactar com inúmeros miúdos que melhoraram o rendimento escolar e a situação emocional com a pandemia.
Como mãe, também não fiquei admirada.
Se bem que, este ano, por aqui, ambas tenham sentido muito a falta da escola e do convívio com os amigos, se a pandemia ocorresse em outro ano do passado, não duvido que uma delas teria gostado e muito de não ter que enfrentar o contexto escolar.
Só quem não conhece  de perto uma criança que seja, ou tenha sido, vítima de bullying se espanta com a melhoria de resultados de muitos miúdos nesta época, melhoria que nada está relacionada com uma maior ou menor bonomia dos professores na avaliação.
Há miúdos que apelidamos de desinteressados e preguiçosos que estão num sofrimento horrível por serem alvo de comportamentos abusivos dos seus pares e para quem passar o portão da escola é entrar no inferno. As escolas, de uma forma geral, fecham os olhos e fingem não ver, porque o que interessa são mesmo os rankings e as bandeiras de escolas amigas disto e daquilo. Os pais, muitas vezes, acham que é mimo ou "frescura" (como dizem os nossos irmãos brasileiros) e que têm mais é de aceitarem as brincadeiras de crianças...
Enquanto pais, enquanto pessoas que lidam com crianças com alguns problemas, talvez estas melhorias de desempenho, este aumento de interesse pelas actividades propostas, fora de portas da escola, nos devesse fazer reflectir sobre se realmente olhamos a fundo para a tristeza dissimulada dos nossos meninos, ou andamos distraídos, empenhados em que sejam alunos de quadro de honra, mas profundamente infelizes (vítimas e agressores)!!!




9 comentários

  1. Esta quarentena serviu para muitos pais perceberem que, se calhar, não conhecem assim tão bem os filhos que tenha - no bom e no mau sentido.
    Eu sei que a vida se coloca pelo meio e nem sempre estamos atentos a tudo, mas é importante aprendermos a estar mais atentos às nossas crianças, em vez de partirmos logo do pressuposto que há uma segunda intenção negativa no seu discurso

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  2. Será que melhorou mesmo? Nas dúvidas quem esclarece?
    .
    Tenha uma tarde/noite feliz
    Cumprimentos poéticos

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  3. Eu queimei os neurónios com a minha. Podia ter tirado notas melhores se, se aplicasse a estudar matéria. Tinha que andar sempre a bater na mesma tecla. Claramente que não sentiam a pressão, e aqueles que gostam de se aplicar e estar em silêncio a estudar acredito que se tenham sentido bem melhor em casa!

    Para os Pais também foi um desafio! Muita canseira. :))

    Beijinhos. Boa noite!

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  4. Fiquei feliz ao ver a Mariana entusiasmada por voltar à escola e agora em actividades extra-curriculares.
    Bfds

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  5. Ontem também ouvi alunos em exames a dizerem que a pandemia e o confinamento, os deixou muito melhor preparados para os exames.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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  6. Uma boa exposição de uma realidade. Obrigada

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  7. Cá por casa, o confinamento ajudou o meu filho a concentrar-se mais, mas foi preciso andarmos sempre em cima dele... para a mais pequena foi um bocadinho uma tortura, estava no ultimo ano de pré e não tenho duvidas que queimava imensas energias durante o tempo de escola... eu bem tentava e fiz várias actividades com ela, mas não é a mesma coisa!!
    Quase todos os anos dizemos que os miúdos vão mal preparados para o ano seguinte, este ano então nem se fala... seja o que Deuses quiserem!!

    Beijos e abraços.
    Sandra C.
    bluestrass.blogspot.com

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  8. A escola devia ensinar o caminho para a felicidade primeiro. O resto depois. A familia devia empenhar-se no mesmo. Todos se desviam do unico sentido que faz sentido a vida ter.

    Abraço

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  9. Vivi isso com o meu filho do meio, que estava no 1º ano, e que de um dia para o outro deixou de conseguir passar o portão da escola... primeiro que descobríssemos o que se estava a passar foi um tormento... descobrimos antes do confinamento, graças à psicóloga a que entretanto o levámos, e quando a escola fechou por causa da pandemia, foi o melhor que lhe aconteceu... ganhou gosto pela aprendizagem, aprendeu a ler em casa, comigo, ganhou todas as competências e melhorou as notas... e vai para uma escola nova porque eu acredito que todas as crianças merecem ser felizes na escola. Partilhei no meu blog esta nova vivência porque, de facto, não estamos à espera, não conseguimos logo perceber... os miúdos não contam, muitas vezes nem percebem o que se está a passar. No nosso caso, era o colega, amigo, de quem ele gostava, que tinha e tem uma história de violência familiar e que acha que ser amigo é ser dono, ou brincas comigo ou apanhas...

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