São pedras senhores, o que sabemos atirar, sempre que alguém faz alguma coisa que, à partida parece pouco consentâneo com a sua condição humana e, sobretudo de mãe.
Não penso que devêssemos atirar rosas ou aplaudir. Devíamos, sim, parar e olhar para além do cenário.
Tudo isto, a propósito da mãe que esta semana, imediatamente após o parto, colocou o seu recém-nascido num eco-ponto (destinado não ao lixo doméstico ou ao vidro).
Logo se levantaram as vozes e a conversa do costume. "Desgraçada!", "Vadia!", "Tantos casais a quererem ter filhos e ela faz isto!", "Porque não foi dá-lo para adopção?"
Antes de mais, é preciso pensar e chegar à conclusão que o tal trabalho em rede e multidisciplinar que tanto se apregoa nos órgãos de comunicação social falhou redondamente. Ninguém deu conta que havia uma jovem de 22 anos, sem qualquer família de suporte, sem abrigo e grávida.
Depois, ir entregá-lo a uma instituição e dar o consentimento para adopção implicaria uma série de burocracias (e quem trabalha na área sabe-o muito bem), que não sei se esta mulher tinha condições psicológicas de acompanhar.
Além disso, se a lei penal prevê a figura do infanticídio para os casos em que as mães matam os filhos no estado puerperal, ou seja, ainda sob a influência das emoções fortes que as hormonas libertadas durante o parto, reconhecendo, desta forma, que esta influência as torna incapazes, muitas vezes, de pensar correctamente e as leva a agir de forma descompensada, poderíamos exigir a esta mulher que teve a criança no meio da rua sozinha, que discernisse ao ponto de ir arranjar um caixotinho e ir deixá-lo disfarçadamente, em pleno dia, à porta de um centro de acolhimento?
Eu passei pela infertilidade na minha primeira gravidez e, talvez na altura tivesse pensado como a maioria das pessoas pensa. Era muito, mas muito mais nova e não tinha a capacidade de ver sem julgar que tenho hoje.
Todos se preocupam com o bebé que foi deixado no ecoponto azul. E é de preocupar. Mas, felizmente, ele está bem, e será o mais rapidamente adoptado, tanto mais que encontraram a mãe.
Espero que haja um pouco de humanidade e se preocupem também com a mãe sem abrigo, de 22 anos, dominada por um homem qualquer de identidade desconhecida, que pariu no meio da rua sozinha, sem uma mão para segurar.
Em determinados dias
Há 18 minutos
Bom dia
ResponderEliminarE é tão fácil atirar pedras !!
JAFR
Bom dia:- Dificil de entender. Complicado perdoar. Havia tantas outras formas de dar outro rumo à bébé. Entregá-la Na polícia por exemplo.
ResponderEliminar.
Votos de um feliz fim de semana.
Totalmente de acordo e já dei a minha opinião sobre esta triste situação. Vou indicar o seu post noutros blogues para que outros comentadores o possam ler.
ResponderEliminarBoa tarde!
ResponderEliminarSabes, querida Amiga, já te admirava muito como pessoa e ser humano. Ante de te ler, confesso que tinha uma outra opinião sobre esta mãe, mesmo com tudo o que ouvi na tv. Li e reli o teu texto...meditei sobre o assunto. Consegui colocar-me no lugar desta mãe (sem abrigo). A vida não é fácil, para ninguém, para os sem abrigo nem se fala.
Adorei a forma como abordaste o assunto, que é na minha opinião, muito delicado. Consegui entender onde queres chegar. Consigo dar-te razão. Não devemos julgar antes de saber os contornos das coisas. Sim, essa moça precisa de ajuda, muita ajuda. Mas resta saber se quer ser ajudada!
Resumindo e , falando por mim; É mais fácil atirar pedras do que tentar perceber as situações!
Obrigada por fazeres ter uma opinião diferente sobre o assunto!
-
Se tentasse dar asas à minha alma quando vagueia
Beijo e um bom fim de semana!
Só tenho duas palavras. Nem mais!
ResponderEliminarBoa noite, Maria
Infelizmente, continuamos a ser mais rápidos a julgar; continua a ser mais fácil apontar o dedo do que procurar compreender os motivos :/
ResponderEliminarPois, não sou capaz de compreender como uma mãe faz isto.
ResponderEliminarDefeito meu?
Talvez...
Boa semana
Não sou capaz de julgar. Sabe-se lá os demónios que cada um passa.
ResponderEliminarEste caso fez-me pensar muito. Num primeiro momento pensei de imediato "como é possível alguém fazer isto?". Depois, ao saber mais pormenores sobre a mãe e sobre as condições de vida que ela tinha, a pergunta que eu inicialmente tinha feito deixou de fazer sentido. Há muitas condicionantes desesperantes que tomaram conta daquela mãe.
ResponderEliminar