Ai de mim...

2 de fevereiro de 2017

Ai de mim se me calasse quando me pedem a minha opinião, sobre um assunto relativamente a qual tenho bem formada.
Bem sei que há casos e casos. Bem sei que cada um tem direito a pensar como entender. Mas, o facto de ser católica e praticante, não me pode impedir de ter a minha opinião. A propósito da eutanásia, embora não ache que as pessoas devam poder decidir em qualquer estado de sofrimento, morrer, sob pena de estarmos a branquear suicídios, também acho que em estados terminais, em que nada há a fazer e que as pessoas perdem completamente a sua autonomia e a sua capacidade de gestão de si próprias, devem poder decidir pôr termo à vida com dignidade e, para isso ter a devida ajuda médica.
Deus deu-nos a vida, mas é infinitamente bom ao ponto de não querer por mero capricho manter-nos em sofrimento e sem qualquer dignidade enquanto obras fantásticas da sua criação.
Tudo isto a propósito do ar apalermado e escandalizado que todos fazem por eu dizer isto, sendo eu assumidamente católica..,..

20 comentários

  1. Será sempre um assunto delicado.
    kiss na cheek

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  2. Leu o meu paper de fim de estágio de advocacia?
    Até parece que sim.
    Completamente de acordo!

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  3. É um caso muito complexo. Em 2009, meu pai pediu-me insistentemente que o ajudasse a morrer. Ele tinha 92 anos estava lúcido, mas não aguentava o sofrimento. Estava com cateter de morfina, que não lhe fazia nada. Perguntei ao médico porquê e ele disse-me que dose de morfina era fraca, mas que dada a idade dele se lhe aumentasse a dose, o coração não aguentava. Meu pai foi internado e acabou por morrer no hospital, segundo o médico porque desistiu de viver, eu penso que o coração não aguentou o sofrimento.
    Sei então por experiência própria o que é pensar na eutanásia e o ver-se confrontado com uma pessoa querida que a pede.
    Penso que todos nós devíamos em consciência, e enquanto jovens e saudáveis tomar essa decisão e usá-la registada, sei lá, talvez no cartão de cidadão. Não fazer com que outros tomem mais tarde, quando já não somos capazes de discernir decisões por nós. Eu tomaria essa decisão por mim, mas não seria capaz de a tomar por alguém que amo.
    Abraço

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    1. Deixa aqui um testemunho com uma perspectiva interessante. Ser os outros a decidir pode ser uma responsabilidade que a pessoa não suporta ou acha que não lhe cabe. Por outro lado sei que se pode pensar de uma maneira quando tudo está bem e, quando as coisas mudam, mudar de opinião. Ou seja: em jovem pode-se defender que se quer ser eutanasiado caso certos requisitos bem numerados se verifiquem. Mas na altura pode-se ser acomedido de uma vontade extraordinária para lutar pela vida. Ainda assim, concordo que é melhor que a decisão recaia sobre o próprio e não sobre terceiros. Embora estes também sejam importantes para avaliar o estado de lucidez e firmeza do paciente.

      Por estes motivos, elvira, ainda me custa o que foi feito neste país a respeito da doação de orgãos, que é automática. Não te consultaram e decidiram mandar na tua vida, na tua morte e no teu corpo, a menos que os proibas e sabe-se lá como isso é possível. Os meios para te opores à doação automática de orgãos não são acessíveis, não estão bem esclarecidos entre os profissionais do ramo e assim se deixam as pessoas no desconhecimento desta realidade. Até HOJE, 25 anos após esta realidade, existem muitos portugueses convictos que só lhes extraem os órgãos CASO AUTORIZEM. Claro que não. Essa violação e invasão, essa forma de dispor da vida e morte de outros fez com que eu mudasse de ideias em relação ao tema. Aqui no UK isso ainda se debate e eu concordo e admiro a clareza com que explicam que a decisão deve ser da pessoa E NÃO do ESTADO.

      Num dos debates que vi na TV, um comentador revelou que quando ele era criança, o irmão sofreu um grave acidente e os médicos aconselharam a desligarem as máquinas, vaticinando morte cerebral. Os pais não seguiram as recomendações médicas, o rapaz recuperou, SEM lesões cerebrais e tem hoje 50 e tal anos...

      QUANTOS - pergunto eu, não tiveram uma sentença de morte antes do seu tempo, só porque passamos a acreditar demasiado na medicina e pouco na fé? Só porque... os médicos acreditavam que a morte cerebral era irreversível e, no fundo, existem razões mais torpes. É dispendioso manter uma pessoa ligada a uma máquina e os hospitais preferem os órgãos dessas pessoas para meter noutras??

      Discute-se a eutanásia mas já se aceitou isto de se matar ao se desligar as máquinas quando há um diagnóstico de morte cerebral... Parece estranho. Cínico até.


      PS: Eu acredito que uma pessoa que já viveu muito, ou que já sofreu muito, tem o direito de decidir. O seu pai... acho até cruel não o deixarem estar... Não quero com isto dizer que deviam os filhos escolher a eutanásia... Não. Mas pergunto: se não fossem as máquinas, os fármacos, a energia artificial, não morreria um paciente idoso por si mesmo, de morte natural, mais precoce mas menos prolongada no sofrimento, feliz na sua casa? Confortável, no seu ambiente, ao invés de um frio hospital, que mais parece um lugar onde se vai com o único destino de morrer??

      Abraços.

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  4. Custa-me muito dar opinião sobre a eutanásia!!

    Beijo e um dia feliz

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  5. Não tenho opinião formada sobre o assunto...não é fácil uma decisão dessas...


    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  6. Eu sou a favor porque realmente ninguém merece andar a sofrer...

    Beijocas

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  7. Estou como tu. Acho que fundamentalismos nãos fazem sentido. O facto de sermos católicos convictos, não quer dizer que as nossas opiniões não possam diferir daquelas que são ditadas pela Igreja! Mal de nós!

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  8. Tenho a mesma opinião que tu ! As pessoas em estados terminais deviam poder decidir.

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  9. «acho que em estados terminais, em que nada há a fazer e que as pessoas perdem completamente a sua autonomia e a sua capacidade de gestão de si próprias, devem poder decidir pôr termo à vida com dignidade e, para isso ter a devida ajuda médica», estou inteiramente de acordo contigo!

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  10. As opiniões devem e tem de ser respeitadas! :) Beijinho Maria

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  11. Eu concordo com a sua opinião, sem dúvida!

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  12. Sinto que tenho uma opinião formada !
    Desde que em sofrimento, com conhecimento da situação irreversível pelo próprio e a seu pedido e com igual constatação de uma equipa médica eticamente bem considerada (de 3 pelo menos) independentemente de qualquer sentido de ordem religiosa .
    A dignidade da pessoa humana deve sr respeitada !

    .

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  13. É um tema bem perturbador!
    Cada caso é um caso...e será de difícil decisão!
    Bj

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  14. Acho que é um assunto muito frágil, há situações em que a vida nos coloca em que muita gente sofre e que envolvem muita coisa, já passei por isso e sei do que falo. Nunca seria capaz de decidir quando a vida de alguém acaba, não sou ninguém para o decidir e julgo que a maioria das pessoas pensa como eu, pelo menos aquelas com bom senso.

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  15. Acho uma crueldade não querer tornar possível a eutanásia. Porque ninguém pede que outros decidam pela nossa vida, apenas que nos permitam tomar uma decisão que só a nós diz respeito, porque se trata da nossa dignidade. Quando não há volta a dar e a morte é a única saída, devia, sim, ser possível, a pessoa decidir como quer morrer. Ninguém devia ter poder de decisão nisso além da própria, afinal quem é que sofre até ao fim? Não é a pessoa que está doente? Então porque não pode ela decidir?

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  16. Uma pessoa não deve abdicar de pensar e ter opinião própria e fundamentada só porque assume uma religião com a qual se relaciona bem e está confortável. Aí seria «meia-pessoa», seja religiosa ou não. Porque qualquer pessoa não religiosa, que não tem essas ideias da igreja a toldar o seu raciocínio pode muito bem ter a cabeça mais formatada a outros preconceitos e nem sequer o perceber! Pessoas que te dizem isso, por exemplo. Acho que não entendem a raiz, a base do que EU penso ser a origem das religiões - católica em particular.

    Duvido MUITO que até os padres de há 300 anos não defendessem, de alguma forma, um alívio para o sofrimento extremo. O que as pessoas de hoje têm é uma ideia cristalizada e formatada da cristandade, devido aos filmes, em particular. E isso as limita. Não vão mais além. SIM, é verdade que a Igreja apostólica Romana é contra a morte provocada. E esse é um princípio admirável, ao qual não querem abrir excepções, já que visam ir contra o princípio do direito à vida. Mas as pessoas esquecem que a pedra basilar da religião devia ser a caridade. O bem querer ao próximo, a compreensão, o entendimento, a humanidade...

    Quantos, imagino eu, não terão ajudado outros a partir com base nesse nobre sentimento de compaixão, amor, vontade de ajudar?? Eu costumo ler antigos registos de óbito das igrejas paroquiais. E isso ajuda a entender outras épocas, outros tempos. Uma vez li que um rapaz morreu na sequência de uma explosão de um morteiro durante as festas de Santo André(?). Essa explosão lhe queimou as faces impedindo-o de falar e lhe tirou uma mão. Viveu durante 3 horas e depois morreu. Notava-se nas palavras escolhidas pelo escrivão/padre um pesar pela tragédia, uma preocupação diria que até da aldeia inteira pelo sucedido, uma compaixão pelo sofrimento, uma vontade de ajudar para que a pessoa não sofra... E uma fé de que, ao morrer, encontra-se então na paz de Deus. Em muito do que li notei de tudo e acabei por concluir que, por muitos seculos que passem, a humanidade, no fundo, é igual. Passamos todos pelos mesmos apertos, pelas mesmas preocupações... Viemos cá para isso e para aprender com elas, não é verdade? A desgraça dos outros não é em vão. Não quando muitos aprendem com ela.

    Abraços!

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  17. Ontem deixei aqui uns comentários sobre o tema, algo amplos, que tocavam a religião, o tópico e outras práticas medicinais, passando pela doação de órgãos. Tenho tendência a escrever demais :) Mas achei útil como matéria de reflexão. Aliás, tudo merece a nossa análise e reflexão. Sobre este tema não tive grandes dúvidas até hoje, acho que pela sorte de ter sido esclarecida por casos reais que vi em documentários e pela maior sorte de ser «como sou». (seja lá o que isso significa kkk). Entendo o conflito ético. Mas, como referi antes, no passado de séculos atrás até mesmo o mais religioso defensor da vida terá vacilado, quiçá até praticado o acto caridoso de terminar o sofrimento atroz de uma alma condenada. (E se sofreram algumas delas! Principalmente por acção humana!). Cada caso é um caso mas o acto, embora de alta responsabilidade, por si só não me parece errado. Merece sobriedade e não é para ser tomado e tratado com descaso. Mencionei até o «desligar das máquinas» em caso de morte cerebral, mais para dar como exemplo uma prática médica aceite socialmente faz muitos anos, encarada como um acto caridoso. Usamo-la também para terminar a vida dos nossos animais de estimação mais queridos e amados. Há aqui uma dualidade, até um certo cinismo de critérios. Embora um animal não seja um humano, uma vida é uma vida. Dei um exemplo de um erro de avaliação de morte cerebral que quase resultou na morte de um homem que se recuperou na totalidade... Então pode-se concluir que existe sempre a possibilidade do milagre. E por isso a «eutanásia» se calhar tem vindo a ser praticada de forma indirecta pela medicina. Que hoje preocupa-se mais com a escassez de orgãos para transplante e a falta de espaço de camas nos hospitais.

    Desculpa a opinião «polémica», eheeh.
    Bom fim-de-semana.

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