Crucifiquem-me...

12 de setembro de 2017

Estão as redes sociais portuguesas em polvorosa por causa de algumas afirmações de uma série de mães plasmadas num livro, prestes a sair.
Num mundo onde as pessoas se escandalizam por da cá aquela palha até entendo que isto seja mais um motivo para uma acesa discussão.
No entanto depois de ler o artigo, depois de ler o relato, ou o excerto das conversas tidas com estas mães pela autora, confesso que não estou chocada. Uma mãe dizer que se soubesse bem como era teria abdicado da maternidade, ou seja, não teria tido filhos, não é nada de aterrador.
 Não me choca absolutamente nada. Não abdicaria de ter tido as minhas filhas e se a vida tivesse proporcionado teria tido mais uma. No entanto, penso que estamos todos de acordo que ninguém tem a noção do que é ser mãe até ter filhos. E, não tenho dúvidas que ter um é diferente de ter dois, como ter dois é diferente de ter três. Parece-me, contudo, que estas mulheres não se referem a abdicar dos seus filhos em concreto, nem referem que não os amam. Abdicariam sim da maternidade. Não da Maria, da Leonor ou do João. Da maternidade em si e ponto final. Para mim isto é absolutamente legítimo, já que, volto a frisar, a maternidade não se pode contar ou saber como é senão vivenciando-se e ser mãe (ou pai) não é para todos. Arrependemos-nos de tantas coisas na vida pelo que não acho nada do outro mundo que as pessoas (mulheres) percebam a posteriori que a maternidade não é nada daquilo que pensavam que seria ser. Volto a frisar que não me parece que estas mulheres não amem os seus filhos, nem digam que não gostam deles. Não gostam da maternidade em si. Eu tenho a certeza de que é a coisa mais importante da minha vida, o que não quer dizer que muitas vezes não desespere. Mas isso sou eu que me realizo na maternidade. E quem não se realiza? Não somos todas iguais. Nem todos temos a mesma capacidade de dedicação. Recebemos muito em troca. Para mim é uma coisa fantástica. Mas é necessária uma grande capacidade de abnegação que nem todas as mulheres e homens têm. Claro que as crianças não têm culpa, claro que é terrível para elas terem uns pais que não se realizam na maternidade. Mas, volto ao ponto de partida, ninguém sabe o que é a maternidade até ter filhos e a maternidade vive-se de forma diferente consoante os filhos. Eu sempre me disse incapaz de fazer um aborto, tivesse o meu bebé o problema que tivesse. E, dizia-o independentemente de ser católica. Hoje, continuo católica, mas ao trabalhar na área da família e ao conviver com uma grande amiga que se tentou suicidar já por duas vezes porque não consegue lidar com as deficiências da filha para além da esquizofrenia da miúda, pergunto-me o que teria feito se me acontecesse uma coisa dessas hoje. A vida fez-me deixar de ser radical em relação a tanta coisa.


14 comentários

  1. Percebo perfeitamente o que dizes.
    Como eu há uns anos disse que não concordava com o aborto mas sim com a sua legalização, pois mesmo não concordando sabia que iria continuar a ser feito, então que fosse feito sem morrer tanta mulher esvaida em sangue.

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  2. Mesmo quem não se realiza na maternidade, pode ser boa mãe, assumindo o papel ainda que não seja aquele que mais gostaria de estar a desempenhar, porque ama o(s) filho(s).

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    1. Plenamente de acordo. Não é o facto de não se realizarem que as impede de exercer o seu papel correctamente ou de amarem os filhos.

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  3. Aplaudo-a senhora. Só sabe do convento, quem mora lá dentro.

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  4. Acabei de ler o artigo. Confesso que é difícil compreender, assim à primeira, a opinião destas mães, mesmo quando são filhos que não lhes deram problemas (creio que uma afirma isso).

    Curiosamente, algumas têm mais que um filho. Não teriam chegado a essa conclusão após o primeiro filho ter nascido? Ou só começaram a lamentar-se após o nascimento do segundo e do terceiro?

    Uma coisa devemos considerar: ninguém vive a vida destas mães para compreender totalmente o que sentem. Por isso não temos o direito de as julgar.

    Não li comentários/críticas sobre o assunto, mas facilmente posso imaginar! : )))

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  5. Não me consigo pronunciar pois até compreendo. Aliás, eu acho que se agora tivesse um filho (coisa que não quero nem agora nem nunca) acho que iria dizer as mesmas coisas =/

    Beijocas

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  6. Amo profundamente o meu bebé, mas, na verdade, eu não sou uma pessoa muito maternal e acredito que se tivesse uma grande carreira ou um futuro super promissor não ia abdicar do mesmo para me concentrar em filhotes. :)

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  7. Talvez não seja a pessoa mais indicada para comentar. Estive a ler algumas coisas no tal artigo e fiquei de boca aberta. Tenho os meus e não me imaginava sem eles tenho os netos e não em imagino sem eles. Tenho uma neta diferente/dificiente com quase 13 anos, e tenho a certeza que a minha filha não se conseguia ver sem ela, apesar de agora ter um menino com quase 6 meses. Se ela estivesse arrependida não arriscaria ter o segundo filho. Já que a filha dá muito trabalho.

    Não consigo entender como há tantas mães a dizer que nunca teriam os filhos e certamente que são saudáveis, fará se não fossem.

    No entanto tenho que respeitar!

    Gostei muito do teu texto. E desculpa se não estive em contexto.

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  8. Olá amiga. Entendo perfeitamente o que dizes. O que eu acho legítimo a estas mulheres é dizerem que se soubessem o que era a maternidade e tudo o que ela implica não teriam tido filhos. Nem todas nós temos queda para maternidade. Elas não se referem concretamente aos filhos, ou seja, elas não dizem que não gostam do António ou da Carolina. O que não é fantástico para elas, como é para nós, é o facto de serem mães. Aposto que elas amam os filhos e fazem tudo por eles, mas não se sentem realizadas pelo facto de serem mães. Por mais que eu viva a maternidade de uma forma feliz, tenho que reconhecer que exige uma capacidade de sacríficio muito grande. Para mim é perfeitamente suportável e o resto compensa. Mas isto resulta da forma como eu vivo o facto de ser mãe. Nem todas as pessoas são como nós e a maternidade é uma experiência única e individual. E eu percebo que para algumas pessoas não tenha sido a coisa mais fantástica, independentemente de os filhos terem ou não problemas.

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  9. Eu também as percebo. Acho que é isto que a idade traz: a compreensão e a tolerancia. O respeito pelas outras opiniões e a aceitação. A mim também não me choca, aliás cada dia tudo me choca menos, e percebo o que dizem. Percebo o que sentem, interpretei como tu. E aceito, a mulher não tem obrigatoriamente de ser mãe e de gostar de ser mãe! beijinho

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  10. De certa forma admiro estas mulheres pela coragem de exporem o seu descontentamento com a maternidade, pois é algo que a meu ver a sociedade não está preparada para ouvir. Eu adoro ser mãe; sempre foi um sonho poder dar vida a um ser e acompanhá-lo no seu crescimento. As suas palavras são cruciais quando diz que ninguém sabe o que é a maternidade até ter filhos. Ninguém nos consegue prepapar para esse papel de mãe, que tem tanto de difícil e desafiador, como de compensador por todo o amor nele envolvido! Tenho imenso respeito por todas as mães e a maternidade também me levou o pouco radicalismo que em mim havia.
    Beijinhos

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  11. temos por hábito evangelizar a maternidade e isso inibe muitas mães de partilharem os seus medos e culpas (de não serem "perfeitas")

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  12. Não deve ser fácil criar um filho.
    Eu não os tive, mas criei alguns sobrinhos e gosto de crianças.
    Não me arrependo de não os ter tido.



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  13. Aplausos para este post. Não sou Mãe e só o saberei se um dia for, mas acredito que não seja nada facil. Até ao momento, e por muita vontade que tenhamos de ser pais, temos adiado a decisão por "egoismo", por ainda querermos pensar só em nós e no sucesso profissional. Há uns meses atrás tinhamos decidido que era o momento, e a vida deu-me um novo desafio profissional que "aceitamos" na hora... enquanto não os temos podemos com facilidade passa-los para segundo plano, mas depois as coisas não são tão fáceis e acredito que sejam sensíveis a muitos níveis.

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